Língua Sagrada?






A questão das línguas é cada vez mais corriqueira no meio evangélico. Vale aqui ressaltar que não estou falando do Dom de Línguas apresentado na carta de Paulo aos Coríntios. Estou falando das línguas utilizadas originalmente para a escrita das passagens Bíblicas.
Em outras religiões existe a noção de “língua santa” na qual o texto foi inspirado e que, somente naquela língua, o texto é realmente sagrado. Assim ocorre com o budismo, com o hinduísmo e principalmente com o islamismo. No cristianismo apenas a Igreja Católica Apostólica Romana é que possui no latim uma “língua santa”.

Vamos agora conhecer um pouco mais sobre as línguas bíblicas.

Para começo de conversa não tem nenhum cabimento defender o latim como sendo uma língua santa para a Bíblia. Lembre-se que a Bíblia foi redigida em 3 línguas: O Hebraico, o Aramaico e o Grego Koinê. Nenhum texto Bíblico foi escrito originalmente em Latim, por este motivo temos a certeza de que o Latim é apenas uma das traduções como o é o Português, o Francês, o Inglês e o Coreano.

O Hebraico Bíblico:


Hebraico Bíblico
Grande parte do Antigo Testamento foi escrito em Hebraico. Esta língua, de origem é uma língua Semita, ou seja, uma língua derivada da forma de falar e escrever dos filhos de Sem (filho de Noé). Esta é a mesma origem do assírio, do arameu… Ele é um dialeto cananeu que surgiu durante o período monárquico de Israel e que se desenvolveu de forma independente. Depois do cativeiro babilônico esta língua caiu em desuso e começou-se a utilizar a forma do hebraico usada nos dias de hoje.

O Aramaico:


Aramaico Bíblico (oração do Pai Nosso em Aramaico)
Esta também é uma língua Semita. Ao contrário do que alguns acreditam o Aramaico não é um dialeto hebraico, são línguas parecidas, mas independentes.
Esta língua é a menos utilizada na escrita Bíblica, aparecendo apenas em alguns pontos isolados do Antigo Testamento, a saber: 2 palavras em Gênesis 31:47; uma parte do livro de Esdras (Ed 4:8 – 6:18 e 7:12-26), um trecho de Daniel (Dn 2:4 – 7:28) e um versículo de Jeremias (Jr 10:11). No Novo Testamento o aramaico é utilizado em poucas citações contudo em todas elas encontramos as traduções para o grego imediatamente a seguir.
No entanto devemos compreender que a língua falada dentre Jesus e seus discípulos era o aramaico, portanto, devemos compreender que todos os diálogos encontrados nos evangelhos foram originalmente traduções feitas pelos escritores daquilo que ouviram em aramaico.
Exemplo disto pode ser dado no texto de Mateus 27:45 e 46:
E Houve trevas sobre toda a terra, do meio-dia às três da tarde, Jesus bradou em alta voz: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”, que significa “Meu Deus! Meu Deus! Porque me abandonaste?”.

O Grego Koinê:


Grego Koinê
Segundo o Prof. Pr. Antonio Gusso, o Grego é dividido em cinco períodos históricos, a saber: 1)Formativo(1500-900 a.C.) – época em que surgiu os três dialetos principais: Dórico, Eólico e Jônico-ático; 2)Clássico(900-330 a.C.) – época das famosas obras de Homero, Hesídio, Heródoto e Platão; 3)Koinê (330 a.C. – 330 d.C.) – época em que a língua grega passou a ser utilizada por várias nações conquistadas, principalmente, por Alexandre – O grande; 4)Bizantino(330-1453 d.C.) – esta língua foi preservada principalmente em Bizâncio e Ásia Menor; 5)Moderno (a partir de 1453 d.C.) – esta é a língua falada hoje na Grécia.
É interessante notar que devido ao período da primeira tradução do Antigo Testamento (a famosa Septuaginta – LXX) e dos escritos do Novo Testamento estarem compreendido no 3º Período da história da língua Grega, a única forma do Grego que foi utilizada na Bíblia foi o Koinê.
No entanto, é interessante notar que a própria palavra Koinê já demonstra o que é esta língua: Koinê em Grego significa “comum”, ou seja, era a língua utilizada pelo povo! Era a língua que muitos utilizavam corriqueiramente para se comunicarem, inclusive em diferentes países.

Escolhendo uma língua:

Se fossemos escolher uma das línguas para ser considerada “a língua sagrada” do Cristianismo teríamos algum problema:
Haveriam os defensores do Hebraico, afinal esta foi a primeira língua utilizada para escrever a Bíblia, os 10 mandamentos, a Torá e grande parte do Antigo Testamento.
Noutro lado teríamos os defensores do Aramaico, afinal esta foi a língua utilizada por Jesus para se comunicar com seus discípulos e até mesmo em milagres como a passagem relativa a filha de Jairo, Ele falava em aramaico!
Num terceiro lado teríamos os defensores do Grego Koinê, afinal Deus permitiu que todo Antigo Testamento fosse traduzido para esta língua que é a mesma utilizada para a escrita do Novo Testamento.
Realmente não dá para escolher dentre estas 3 línguas, e todas elas poderiam ser igualmente escolhidas pelos motivos apresentados, no entanto, é importante notar que todas elas eram línguas do povo, a forma como o povo se comunicava naquela época. Mesmo o grego koinê era a língua que fazia o “intercâmbio” dentre as nações assim como o inglês é hoje.

A verdade:

A verdade é que Deus não deixou dúvidas que o interesse d’Ele não era santificar uma língua em especial. Não era criar um objeto de adoração. Ao contrário, Deus, em Sua magnífica sabedoria, utilizou-Se da língua comum, a língua que o povo fala, para se comunicar com todos.
Que maravilha! Glórias a Deus que não impede que o que pouco estudou compreenda a Ele tão bem quanto o “seu dotô”. Deus busca um relacionamento pessoal com cada ser humano e é por isto que Ele se comunica diretamente na língua do povo.
Esta é a razão pela qual o Cristianismo não tem uma “língua sagrada”. Por isto é que a Bíblia pode e deve ser traduzida para o Português, Inglês, Francês, Japonês, Alemão, Russo, Árabe, Creolo, Affrikans, Yorubá, Javanêz, Mandarim… e todas as mais de 2000 línguas que já possuem a totalidade da Bíblia.
Que haja, pois, mais e mais traduções, que cada dialeto falado na face da Terra tenha a sua tradução da Bíblia, desta forma, todo ser humano conseguirá compreender o amor de Deus por nós.

Consequências:

Como consequência natural desta inexistência de uma língua sagrada, vemos o fato de que é contrário aos desígnios de Deus a “super-valorização” que atualmente tem sido dada ao Hebraico. Vemos pessoas sinceras, mas desconhecedoras das verdades bíblicas, tentando decorar palavras em Hebraico. Pastores e líderes que deixam de utilizar-se da palavra Jesus para utilizar-se da transliteração do hebraico “Yehoshua”…
Amigos! Não é a PALAVRA “JESUS” ou “YEHOSHUA” que tem poder! Quando a Bíblia fala que basta clamarmos pelo Nome de Jesus que Ele nos salvará não é a PALAVRA em questão que tem poder, mas é quem está sendo clamado, ou seja, o próprio Deus! A segunda pessoa da Santíssima Trindade! Aquele que veio a Terra, por nós, viveu por nós, morreu por nós e ressuscitou ao terceiro dia para que pudéssemos ter a salvação!
Não existe nada de especial na PALAVRA Yehoshua, inclusive esta é a mesma palavra que no Antigo Testamento foi traduzida como Josué! Portanto, vemos que trocar a palavra não aproxima-nos mais de Deus.
Ao contrário! O que tenho visto em certas igrejas é exatamente um distanciamento de Deus por esta utilização de palavras desconhecidas e distantes do povo.
Ao ficarem insistindo em utilizar-se de palavras difíceis, os líderes acabam se tornando intermediários dentre Deus e o povo. Passam a experimentar o mesmo do passado da Igreja Católica Apostólica Romana com suas missas em latim. Negam que o véu se rasgou! Negam que o caminho foi aberto! Negam que Deus quer falar diretamente conosco e que não será uma barreira linguística que irá impedir Ele de se achegar diretamente até nós!
A verdade é que quem defende a utilização de palavras em Hebraico está e querendo se meter como intermediário dentre Deus e os homens e só há um mediador e este é JESUS!

Conclusão:

Não estou desmerecendo a importância de se estudar as línguas originais da Bíblia. Segundo o Prof. Pr. Antonio Gusso, dois pontos principais devem ser considerados: 1) As línguas vão se modificando dia-a-dia o que cria a necessidade de atualizações das versões da Bíblia, e estas devem procurar chegar o mais perto possível do texto original, e 2) Porque a Bíblia, conforme originalmente escrita, é considerada Palavra de Deus.
Ou seja, devemos sim buscar conhecimento das línguas originais, mas nunca como substituto do relacionamento pessoal nosso com Deus.
Deus nos escuta, nos compreende e nos atende (segundo Sua vontade) em qualquer língua que falemos. Ele compreende ao índio que buscar a Ele em Tupi. Ele compreende ao americano que buscar a Ele em inglês. Ele te compreende em Português, mesmo que você fale errado.
Deus não está interessado em línguas, Ele está interessado num coração quebrantado e numa busca real e pessoal!
Busque diretamente a Deus, não deixe que línguas venham a ser barreiras dentre você e Deus!


Extraído do blog  http://mantenedordafe.org

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